A pressão para “dar certo” fora do país
- Luana Brito
- há 5 dias
- 2 min de leitura
Mudar de país traz muitas expectativas. Aprender um novo idioma, conhecer novas pessoas, conquistar coisas e mudar de vida. Mas, junto com esses sonhos, aparece também uma cobrança silenciosa: a de que é preciso mostrar resultados rápidos, como se o sucesso fosse a única forma de justificar essa escolha.
A cobrança invisível
Decidir acompanhar à distância o envelhecimento dos pais, o amadurecer de familiares e amigos ou até o crescimento de um filho pode aumentar a pressão para que a escolha de imigrar seja rapidamente validada. É como se os frutos precisassem ser colhidos logo, para compensar o que está sendo perdido no caminho.
Além disso, por mais que não seja saudável, é quase inevitável se comparar com outros imigrantes. Seja com os recém-chegados que parecem já estar estruturados, ou com os de longa data que construíram uma vida sólida. Esse processo pode aumentar ainda mais a sensação de que não é permitido “fracassar”.
O impacto emocional

Muitos saem do país acreditando em uma versão idealizada da vida no exterior: morar em uma casa como nos filmes, comprar um carro novo logo no início, ter o celular mais moderno, viajar com frequência e ainda mandar dinheiro para o Brasil.
Mas a realidade costuma ser bem diferente. Às vezes são meses de entrevistas sem nenhuma resposta, dividir um apartamento pequeno com várias famílias, trabalhar em horários exaustivos e ver todo o dinheiro ser usado apenas para cobrir o básico.
Essa distância entre expectativa e realidade gera frustração. E, com ela, pode vir a culpa por não estar “fazendo o suficiente”. Muitos imigrantes se cobram por não corresponder às próprias expectativas ou às dos outros, sem perceber que o processo é naturalmente mais longo e desafiador do que se imagina antes da mudança.
O que quase ninguém fala
Adaptar-se a uma nova realidade exige tempo. Pense: quanto tempo levou para construir sua vida no Brasil? Foram anos de estudo, de vínculos com amigos, de experiências profissionais e de amadurecimento. Não faz sentido esperar que tudo se resolva em poucas semanas ou meses em um país novo, com outro idioma e outras regras sociais.
Por isso, é importante reconhecer pequenas conquistas. Talvez você finalmente tenha pedido um lanche sozinho sem medo de errar no idioma. Ou conseguiu entender sozinho como pegar a linha certa do metrô. Esses detalhes parecem pequenos, mas são sinais de que você está avançando.
Como lidar com essa pressão

Reconheça suas conquistas. Que tal começar uma lista de vitórias, mesmo que sejam simples?
Evite comparações. Cada trajetória é única, e estar no mesmo voo que alguém não significa que vocês terão a mesma experiência.
Permita-se viver o processo. A saudade do Brasil é natural, mas também é importante se abrir para a cultura local — participar de feiras, eventos, conhecer pessoas e experimentar novos lugares. Não é sobre esquecer suas raízes, mas sobre se permitir viver onde você está agora.
“Dar certo” fora do país não é ter uma vida perfeita ou atender às expectativas dos outros. É construir, pouco a pouco, uma vida que faça sentido para você. E se essa pressão estiver pesada demais, buscar apoio psicológico pode ser um passo importante para elaborar essas experiências e encontrar formas mais leves de seguir a sua jornada.
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