O desconforto de assistir Ángela – E por que ele é tão importante
- Luana Brito
- 1 de ago.
- 2 min de leitura

Essa semana assisti à série Ángela (Netflix) e o que no início parecia ser mais uma minissérie de suspense daquelas com todos os elementos para dar “bem bom”, foi se transformando em algo completamente diferente. Um desconforto físico, angústia e raiva foram crescendo em mim a cada episódio, a ponto de, em alguns momentos, eu sentir vontade de chorar.
A vida “perfeita” que esconde um terror silencioso
Sem dar spoilers: Ángela é uma mulher, mãe de duas meninas, casada com um homem visto como “perfeito”. Do lado de fora, sua vida é invejável. Mas, na realidade, ela sofre violências físicas e psicológicas constantes.
No contexto audiovisual, muitas pessoas podem achar que o que é mostrado é exagerado ou irreal. Para mim, no entanto, foi uma experiência de total identificação, o que explica muito do incômodo que senti.
“Será que sou eu o problema?”
Na clínica e na minha vivência como mulher, já ouvi (e vivi) muitas vezes esse tipo de dúvida:
“Será que estou exagerando?”
“Será que foi tudo coisa da minha cabeça?”
“Será que sou louca por pensar isso?”
“Será que entendi errado?”
Essas dúvidas não surgem do nada. Elas geralmente aparecem em contextos de isolamento emocional, em relações onde se ouve constantemente frases como:
“Imagina, você que entendeu errado.” “Você exagera demais.” “Eu sou a única pessoa que está aqui por você.” “É bobagem, foi só uma brincadeirinha.” “Tem certeza que foi isso mesmo o que eu disse?”

Isso tem nome: GASLIGHTING
A palavra gaslighting vem de uma peça teatral da década de 1930.
Na história, o marido manipula a esposa em pequenos detalhes do cotidiano, com o objetivo de fazê-la duvidar da própria sanidade.
Um dos exemplos mais marcantes acontece quando ele abaixa, sutilmente, a intensidade da luz a gás que ilumina a casa.Quando ela comenta que está mais fraca, ele insiste: “a luz está como sempre esteve”.E assim, repetidamente, ela começa a questionar a própria sanidade.
E, aos poucos, ela vai se distanciando de si, das próprias certezas, dos sentimentos que antes pareciam tão claros.
Quando a dor não deixa marcas visíveis
A violência psicológica não aparece em exames, nem deixa hematomas, mas destrói a autoestima, o senso de realidade e a autonomia.
Na série, uma das coisas que mais me tocou foi ver a que ponto uma mulher precisa chegar para provar que não está louca. Na vida real, vejo isso o tempo todo: mulheres que, mesmo com inúmeros sinais do abuso, sentem que precisam de uma “prova concreta” para validar o que estão vivendo. Essa espera por evidências irrefutáveis pode ser perigosa. E, muitas vezes, custar muito caro.
Falar sobre isso é urgente
Se você está em uma relação onde a insegurança reina, onde se sente diminuída, desacreditada ou culpada por sentir o que sente… talvez seja hora de se olhar com mais carinho.
Violência psicológica existe.
Gaslighting existe.
E não, você não está exagerando.
Procure apoio em amigos, familiares, grupos confiáveis e, principalmente, ajuda psicológica qualificada.
Você merece estar em paz dentro de si mesma.
Comentários